Vera Lúcia de Oliveira Maccherani
Reside na Itália desde 1985. É poeta, ensaísta e professora de Literatura Brasileira na Universidade de Perugia. Formou-se em Letras no Brasil e doutorou-se Itália. Escreve em português e em italiano e tem poemas publicados em vários países. Recebeu diversos prêmios, entre os quais: Prêmio Sandro Penna (Perugia, 1988), Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (2005), Prêmio Literatura para Todos (Brasília, 2006), Prêmio Internacional de Poesia Pasolini (Roma, 2006). Entre os livros publicados: Geografia d’ombra, 1989 (poesia); La guarigione, 2000 (poesia); Poesia, mito e história no Modernismo brasileiro, 2015 (ensaio); A chuva nos ruídos, 2004 (poesia); Verrà l’anno, 2005 (poesia); A poesia é um estado de transe, 2010 (poesia); La carne quando è sola, 2011 (poesia), Vida de boneca (infantil), 2013; O músculo amargo do mundo, 2014 (poesia); Ditelo a mia madre, 2017 (poesia); Minha língua roça o mundo, 2018 (poesia).
POEMAS DE VERA LÚCIA DE OLIVEIRA
(do livro Minha língua roça o mundo (Editora Patuá, São Paulo, 2018)
nasci de uma aranha
que me fisgou por dentro
com seu fio de visgo
que defende a greta
aberta na madeira
o brilho felpudo
enlaçou meu pulso
e aprendi ali
que toda beleza
tem custo
pertenço às ruas frias
de vento e geada
em que algo de mim
se incorporou aos portões
e a esses cães famintos
que rosnam para os passantes
a esses tetos que pungem o céu
com suas antenas parabólicas
mandando mensagens à Deus
memória é medo
que se entreva
entre as teias
do corpo
memória é osso
sem carne
que cobrimos
da melhor forma
possível
para que não
sangre
esperar na porta
que o vento passe
e traga nele sua voz
já que os trilhos do trem
foram arrancados
as ruas não me levam
o ar parado se perde
como água que adoece
e o telefone mudo