Diogo Costa Leal
Nasceu no Porto (Portugal) e vive em Almada. Publicou dois livros de poesia. Adora unir a escrita à palavra dita. Publicou poemas em algumas revistas portuguesas e brasileiras. Difundiu poesia na rádio durante três anos. É co-autor (desde 2012) do projeto Poemó'Copo, aliando spoken word com performance e música.
a medula do momento sem derreter no espasmo
entrincheirar-me no poema contra as ordens
pássaros acontecidos no barulho dos gritos
as mãos escrevendo como ponteiros caídos
contra o meu poder
contra a minha ideia
contra a minha cabeça
a favor do grande ringue
onde o prazer encosta deus às cordas
há um desfile de elegias no carnaval da maturidade
há este espaço alucinado entre esquecimento e invenção
há ziguezagues furibundos no trânsito das coisas que me desconheço
e a medula do momento sem derreter no espasmo
um banho no sangue só por destrançar cabelos
amores que rodam e sobem como hélices tresloucadas
de que me importam os números se há verde do outro lado da janela?
de que me importa a vida feita sim a vida feita
se não há bolsos nas árvores?
de que me importa a morte se não para malabarismo da própria sombra?
e há nuvens cantando quando os gatos te lambem os dedos das mãos
e há gargalhadas colheradas alvoradas
há um arco-íris para escorrega das lágrimas entre as têmporas destes versos
e a medula do momento sem derreter no espasmo
um grande momento de delicadeza
uma grande febre um grande humor
um grande gesto um grande amor
acontecer nos pequenos minutos
a grande identidade
a céu aberto