Eduardo Mahon
43, é carioca da gema, advogado e escritor. Mora em Cuiabá com a esposa Clarisse Mahon, onde passa sufoco com seus trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge. Autor de livros de poemas, contos e romances, publica pela Editora Carlini e Caniato.
BUCETA
À Marília Beatriz
Buceta é a palavra
mais bonita que conheço
É como uma flor carnívora ou ave emplumada
Fruta sumarenta, sem casca e caroço
Uma caixa de madrepérola ou saco de couro cru, embornal
Em que se leva algo guardado de muito valioso
Buceta carrega tabaco, pepita de ouro e rapé
Um bocado de açafrão da Pérsia, borra de café arabe
E xibiu de turmalina paraíba
Buceta sussurra segredos
Porta do Hades, caverna que ecoa morte
Fundo falso, armadilha dentada, ratoeira
Forro de veludo, tricô de lã
Lençol de algodão egípcio
Buceta é segredo, premonição
Bola de cristal, véu de cigana
Ilha de pirata, mapa da mina manchado de rum
Buceta é floresta tropical
Picada na mata, onça pintada e malária
Mar de água rasa, lagoa natural
Buceta é ciência exata
Círculo, cone e pirâmide
Raiz quadrada do triângulo
Ângulo oblíquo, oscilante
Buceta é manifesto político
Resistência pelo desejo, greve geral e passeata violenta
Panfleto subversivo, carta magna da revolução
Buceta é linguagem e pronúncia
Buceta alfabética, semântica, sintética
Tradução do silêncio, grito inaudível, filme sem legenda
Buceta é rito, manual egípcio de iniciação
Batizado de ateu, extrema unção dos moribundos
Buceta terço, buceta novena, buceta coral de igreja
Buceta canônica, ut et orbi
Ninguém passará incólume
Ao pecado, ao milagre, à culpa e à expiação
Da buceta mitológica, geratriz cósmica
Buceta escreve-se com U, como se quer, como se goza
Como deveria ter sido
Desde que Eva pariu o seu Adão
Buceta, então, era o paraíso.