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Nan Fan 
Recebeu ao nascer o nome Zhang Fan. Ele é membro do Comitê Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, presidente da Federação de Literatura da Província de Fujian e presidente da Academia de Ciências Sociais de Fujian. Publicou várias obras acadêmicas e coleções de prosa. Ganhou duas vezes o Prêmio de Literatura Lu Xun.

作者简介:南帆,本名张帆。全国政协常委。福建省文联主席,福建社会科学院院长。已经出版学术著作、散文集多种。曾经两度获“鲁迅文学奖”。

蓝眼泪

“老夫聊发少年狂”,周末驱车近百公里,到平潭岛看“蓝眼泪”。岛上的友人告知,天气闷热的夜晚,海里的一种微生物会浮出海面呼吸。浪涛翻卷,这些微生物发出幽蓝的微光勾出了海浪的摇荡和起伏波纹。“蓝眼泪”来自哪一位诗人的命名吗?不得而知。传统想象之中,那些快乐的“小精灵”多半是蓝色的,它们担任轻喜剧之中调皮的角色。“蓝眼泪”仿佛隐含了忧郁和悲伤。大海的哭泣。网络流传一些“蓝眼泪”的相片,隐藏于浪涛弧线之中变幻多端的幽蓝荧光犹如无所不能的电脑工程师屏幕上合成的。当然,汹涌的大海不接受程序、软件和鼠标、键盘的指令。“蓝眼泪”可遇不可求。这种幽蓝的微光踏浪而来,倏忽而逝。
平潭是一个大岛,300多平方公里。空中俯视,摊在海面的岛屿状如麒麟。平潭岛位居台湾海峡入口,相距台湾的新竹仅68海里。岛上有一个小县城,县城街道上那些贴着马赛克的公寓楼房已经陈旧。乡村许多石块垒出的小楼,四四方方的,低矮而坚固,错杂地趴在山坡上,集聚成一个个小村落,绿色的藤蔓或者粉红的三角梅不时从石块小楼的墙角闪出。这些石块小楼扛得住呼啸而来的海风。海风从宽阔的东海涌入窄窄的台湾海峡,争先恐后夺路而行。平潭岛是一个挺身而出的哨位,不动不摇。平潭岛每年刮风的日子超过200天,海风又硬又尖,地面上刮得动的东西都吹走了。
进入平潭岛的一座跨海大桥刚刚通车十年左右。高速公路翻越过一座小山,葱绿的山坡底下豁然展开海浪翻卷的海峡。这儿是一个风口,几排乳白的风力发电风车悠然转动。这种地方架设一座跨海大桥,凶猛而厚重的海风甚至比湍急的海流更难对付。每一年的夏季,总有几个来自太平洋的台风威严地路过,3500多米的桥梁仿佛在风中颤抖。台风来临的时候必定要封桥。一个熟人有急事抢在封桥之前入岛。乱云疾驰,大风的先头部队已经抵达。他担心驾驶的小轿车会像一片树叶被吹到海里去,只得雇一辆装满货物的大集装箱卡车轰隆隆地过桥,他的小轿车战战兢兢地躲在集装箱卡车一侧的阴影里了跟过去。
呼啸的海风将这个岛上许多人的性格吹得像石头一样坚硬。一批又一批的青壮年渡过海峡,离开平潭岛四处打工。他们躯体刚硬,肤色黝黑,勇于吃苦,接得下许许多多的重活。不知什么缘故,平潭岛的人显示出开凿山间隧道的天赋。大山如同一群巨兽傲然挺立,一群来自海岛的人机智地钻入它们的肥大躯体疏通经络,亦是一奇。乘坐火车或者汽车穿过幽暗的隧道,我时常猜测是不是平潭岛的作品。一个又一个隧道工程完成,平潭岛的一些人渐渐成了公司的老总,脖子变粗了,肚子也慢慢腆起来。然而,不管身家多少个亿,黝黑的皮肤依然不变。没有这一副皮肤,岛上的海风会认不出他们。
我的一个乒乓球友来自平潭岛,是哲学教授。由于漫长的哲学生涯,他的皮肤渐渐褪去了风沙的痕迹,但是,平潭岛的脾气依然火爆,丝毫没有哲学的慢条斯理。哲学教授开车贼快,时常飚车一般冲回岛上的老家,拎来几个纸箱的螃蟹,顺手送一箱给我。如果我伪装客气,假惺惺地推辞,他会像训斥坏学生一样恶语相向。哲学教授邀请我和若干球友到他的学校打乒乓球。到了球馆,几位本校的师生已经占住了球台。哲学教授静静地旁观了几分钟,突然大声吆喝:客人已经到了,你们为什么还装着没有看见?那些本校的师生灰溜溜地走开了,剩下我们这几个反客为主的家伙尴尬地站在那里,进退两难。
这个周末我是从另一座新建的跨海大桥入岛。新建的大桥在平潭岛的北端,长16公里,中途借用几个浮出海面的小岛支撑,整座大桥如同一个漂亮的三级跳。这儿是另一个风口,刮风的日子可以在海面掀起10米高的巨浪。这一座跨海大桥上下两层:上层为六车道的高速公路,下层为时速200公里的高速铁路。那些居住在石块小楼的人们只要出门走几步,即可坐到乳白色列车的空调车厢里。我记得前前后后已经许多年,平潭岛每年获得数百亿的投资,平均每一日有接近两个亿的钱哐当一声砸到300多平方公里的岛屿上。崭新的柏油公路四通八达,地平线上错落起伏的玻璃幕墙高楼,还有大片大片密集的防风林,例如木麻黄,南洋杉,相思树。这一次我穿过六车道的跨海大桥入岛,寻访一种细如沙粒微生物。它们被海水托举到浪尖,发出幽蓝的微光,然后跟随海浪哗地扑到沙滩上,100秒之后熄灭,死去。
驾车在岛上起伏盘旋,灼亮的骄阳烤得车顶发烫。轿车呼地冲上山巅,突然看到山坡下面数十台乳白的风力发电风车列成方阵直接安装于海里,仿佛是生长于碧绿海水之中某种奇怪的植物;轿车下山的时候,对面的一座山坡屏风一般打开,山坡上层层叠叠地排列着石块小楼;一台风力发电风车的巨大风轮缓缓地从山坡背后升起,风轮的直径几乎与山坡一样宽,巨大的叶片轻轻地转动,带有几分魔幻的意味。这时我听到一个同行的伙伴说,风轮转一圈带来的利润是10元钱。是不是可以将这些风车视为看守岛屿的白色巨人?他们气定神闲,悠然转动的风轮仿佛在与天外的宇宙通话。
打开车窗,热烘烘的海风涌入窗口。轿车穿行于潮湿的燠热之中,驶向一个约会般的浪漫夜晚。可是,过分的燠热和湿度意外地造就了一场猝不及防的大雷雨。闪电炸裂天空,轰隆隆的惊雷劈头抡下,片刻之间,车窗上水流模糊了视线,雨刷急骤地开始摆动。雷雨持续的时间不到一个小时,雨后的空气沁人心脾,可是,岛上的友人立即觉得不妙。天清气爽,海里那些微生物或许会早早地睡去而不再到海面逛来逛去。傍晚的湿漉漉海滩正在等待涨潮,一个同行的伙伴回忆说,上一回就在这儿等到了“蓝眼泪”。走过沙滩的时候,每一个陷下去的脚印都发出了蓝光,甚至暴露在空气中的一条胳膊也蓝光闪闪。我们羡慕地听着,但是,我清晰地意识到,今晚“蓝眼泪”大概不会来赴约了。
平潭岛上竟然可以用手机下载到一个报告“蓝眼泪”动向的软件,微信群里随时有人通知哪一片海域冒出了“蓝眼泪”。晚餐的时候手机突然传来消息,不远的地方开始有动静。匆匆驱车赶到,那儿是公路旁边的一个小港口,几艘渔轮和渔船静静地停泊在黑暗中。港口的石栏附近陆续出现一些闻讯前来的人,“蓝眼泪”寻访者开始在昏暗的街道汇聚。一个人端来一盆水哗地泼到港口的河道里,一圈微蓝的水花跳动起来,周围一阵轻微的欢呼。另一个人站到河道码头的台阶上,挥舞手中的竹竿在水里搅起几道微蓝的波纹,岸边是屏气敛息地期待。然而,事情到此为止,竹竿搅起的微蓝也渐渐隐没了。街道上一个保安模样的人踱过来,他内行地说,此时风向已变,那些幽蓝的精灵不再聚集在岸边,而是回到了大海的深处。如若执意要见一见,只能乘大船出海。
当然,这种建议只能一笑置之。我们没有考虑留宿岛上,而是在临近午夜的时候返回。再度路过16公里的跨海大桥,黑暗中已经无法看到海水。桥下是否有“蓝眼泪”随波荡漾?这个疑问一闪而过,答案似乎不重要。那些微生物呆在愿意呆的地方,轻松自在,一切安好。桥面寂静无人,一盏一盏的路灯衔接为遥远的一串。心满意足,没有任何失落之感。平潭岛已经落在身后,但是,这个岛屿始终屹立于摇荡的海流之中,沙滩平坦,海风咸湿,礁石嶙峋,拍上礁石的浪涛轰然作响,夜深人静的时候还会听到潮水的悠长叹息。任何时候都可以再来,不论能否遇得到“蓝眼泪”。 

 

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LÁGRIMAS AZUIS

“Um velho quer viver a loucura dos jovens”. No fim de semana, dirijo quase cem quilômetros até a ilha Pingtan para observar as “lágrimas azuis”. Meus amigos da ilha me contaram que, nas noites de calor abafado, uma espécie de microrganismo do mar nada até a superfície para respirar. A luz azul proveniente destes microrganismos cintila em sintonia com a agitação do mar e o vai e vem das ondas. São “lágrimas azuis” por que algum poeta as descreveu assim? Não se sabe. No imaginário tradicional, os “elfinhos” felizes são em sua maioria azuis e assumem sempre um papel amável em comédias leves. Mas as “lágrimas azuis” parecem implicar melancolia e tristeza, o choro do mar. Na internet circulam algumas fotos das “lágrimas azuis” em que o azul luminescente, em constantes variações e escondido nos arcos das ondas, parece ter sido criado na tela de um engenheiro de computação habilidoso. Claro, o mar agitado não aceita comandos de programas, softwares, ratos ou teclados. As “lágrimas azuis” surgem apenas quando desejam. E a luz azul cintilante que vem sobre as ondas desaparece num piscar de olhos.
Pingtan é uma grande ilha, com uma área de mais de 300 quilômetros quadrados. Vistos de cima para baixo, os ilhéus espalhados no mar parecem um qilin (criatura mitológica chinesa). A ilha Pingtan fica na entrada do estreito de Taiwan, a apenas 68 milhas náuticas da Cidade de Xinzhu, em Taiwan. Há uma pequena vila na ilha, em cujas ruas os prédios de apartamentos em forma de mosaico já estão fora de moda. Nas aldeias, os vários prédios construídos em pedra são pequenos, quadradinhos, e baixos mas resistentes. Eles se entrelaçam nas encostas, agrupados em pequenas povoações. As videiras verdes ou as buganvílias cor-de-rosa se estendem por vezes para fora dos cantos dos edifícios de pedra. Estes pequenos prédios de pedra resistem aos ventos marítimos. Os ventos varrem do Mar do Leste da China ao delgado estreito de Taiwan competindo para ver quem chega antes. A ilha Pingtan é um posto de sentinela corajoso e inabalável. Nela, venta mais de 200 dias por ano. Os ventos marítimos são tão fortes e incisivos que qualquer coisa que puder ser soprada do chão acaba levada pelos ventos.
Faz agora cerca de dez anos desde a abertura ao tráfego de uma ponte marítima que leva à ilha Pingtan. A autoestrada atravessa uma pequena colina verdejante, por baixo da qual o estreito se desenvolve em ondas inquietas. Aqui o vento sopra forte e move fileiras de turbinas eólicas brancas que giram sem pressa. Ao construir uma ponte de baía em um lugar assim, o vento forte e feroz é ainda mais difícil de lidar que as correntes do mar. A cada verão, passam sempre alguns tufões do Oceano Pacífico, e são tão imponentes que deixam a ponte de 3.500 metros a tremer no vento. Sempre que chegam os tufões, a circulação da ponte tem que ser suspensa. Uma vez, um conhecido meu teve uma emergência e precisou entrar na ilha antes da suspensão da ponte. A primeira tropa do vendaval tinha chegado a galope nas nuvens. Com medo de que o carro que dirigia fosse soprado ao mar como uma folha, ele teve que alugar um grande caminhão de contêiner totalmente carregado com mercadorias para atravessar a ponte. Já o carro dele, este passou escondido nas sombras ao lado caminhão, tremendo feito vara verde.
O vento do mar soprou e moldou o caráter de muitos habitantes nesta ilha forte e resistente como rocha. Os que estão na flor da idade atravessam o estreito em levas, umas após as outras, e deixam a ilha Pingtan para trabalhar em vários lugares. De corpo robusto e pele escura, os jovens diligentes aguentam bastante trabalho pesado. Por algum motivo desconhecido, as pessoas da ilha Pingtan demonstram talento para escavar túneis entre montanhas. As grandes montanhas se erguem orgulhosamente como monstros gigantescos, e é uma maravilha a forma como um grupo de pessoas da ilha penetrou e desbloqueou com inteligência os meridianos dos corpos gordos dos monstros. Ao passar por túneis escuros, de trem ou de carro, muitas vezes me pergunto se seriam obras feitas por gente de Pingtan. Com a conclusão dos túneis, alguns dos habitantes da ilha se tornaram empresários, seus pescoços engrossaram, e as barrigas foram ficando salientes. No entanto, independentemente de quão ricos tenham se tornado, a pele escura permanece a mesma. Sem aquele tom de pele, o vento do mar da ilha não os reconheceria.
Um dos meus amigos do tênis de mesa é professor de filosofia e é da ilha Pingtan. Em sua longa carreira estudando filosofia, as cicatrizes das tempestades de areia foram deixando sua pele. Mas o temperamento explosivo, típico dos habitantes da ilha, permanece, ele não apresenta nenhum traço da calma característica aos filósofos. O professor de filosofia dirige extremamente rápido e vai para a casa antiga na ilha como se apostasse corrida. Ao retornar, ele sempre traz algumas caixas de caranguejos e me oferece uma. Se eu fingisse modéstia e rejeitasse o presente, ele me repreenderia tal qual a um péssimo aluno. Certa vez o professor de filosofia convidou a mim e a alguns amigos para jogar tênis de mesa na escola dele. Ao chegarmos ao estádio, alguns alunos e professores da escola estavam ocupando a mesa onde iríamos jogar. O professor de filosofia observou ao lado da mesa em silêncio por alguns minutos e de repente gritou: “Os convidados chegaram, por que estão fingindo não ver ninguém?!” Os professores e alunos saíram constrangidos, e nós ficamos ali de pé, embaraçados, sem saber o que fazer.
Neste fim de semana, entrei na ilha através de uma outra ponte marítima recém-construída. A nova ponte, com 16 quilômetros de comprimento, fica ao norte da ilha Pingtan e é apoiada por alguns ilhéus emersos no mar, que fazem dela um belo salto triplo. Lá é um outro ponto de entrada de ventos fortes. Nos dias ventosos, ondas de dez metros de altura são erguidas da superfície do mar. Esta ponte é dividida em dois andares, com uma autoestrada de seis faixas no andar superior, e uma ferrovia de alta velocidade de 200 km/h no andar inferior. Para quem mora nos pequenos prédios de pedra, basta sair de casa e andar poucos passos para tomar um dos vagões com ar-condicionado dos trens cor de leite. Lembro que já há vários anos a ilha Pingtan vem recendo anualmente dezenas de bilhões em investimento, com uma média diária aproximada de 200 milhões investidos na ilha de 300 quilômetros quadrados. As novas estradas asfaltadas levam a qualquer lugar na ilha, os arranha-céus com paredes de vidro se erguem acima da linha do horizonte e há florestas quebra-vento extensas e densas, com casuarinas, pinheiros-de-arco e Acacia confusa. Naquela vez, atravessei a ponte de seis faixas para entrar na ilha em busca de microrganismos finos como a areia. Eles são levados pelo mar até a extremidade das ondas e emitem uma luz azul escura, depois se arremessam nas praias com as ondas, onde se apagam e morrem depois de 100 segundos.
Dirigindo em volta da ilha, a carroceria do carro fica extremamente quente com aquele sol ardente. O veículo subiu depressa até o cume da montanha. Ao olhar para baixo das encostas, me deparo com uma dúzia de turbinas eólicas de cor leitosa instaladas no mar em uma formação quadrada, como se fossem plantas estranhas crescendo na água verde. Quando o carro desce a montanha, as encostas no outro lado se abrem como biombos decorados com pequenos prédios de pedra. Lentamente, por trás das encostas, uma turbina eólica surge com suas enormes hélices, cujo diâmetro é quase o mesmo das encostas. As enormes hélices giram suavemente com um toque mágico. Naquele momento, ouvi um colega do passeio dizer que cada volta das hélices gerava um lucro de dez yuans. Será que podemos pensar nestas turbinas como gigantes brancos protegendo a ilha? Eles estão tão calmos, e as hélices giram sem pressa, como se estivessem se comunicando com o espaço.
Abro a janela do carro, e a brisa quentinha do mar entra em lufadas. O carro viaja por entre o calor úmido rumo a uma noite romântica como a de um encontro. Todavia, o calor e a umidade em excesso formam uma tempestade que nos pega desprevenidos. Os relâmpagos fendem o céu, e os trovões se apresentam gritantes. Em questão de instantes, a água da chuva embaça as janelas, e os limpadores de para-brisas começam a trabalhar acelerados. A tempestade durou menos de uma hora, e o ar ficou refrescante após a chuva. Mas os amigos da ilha reconhecem de imediato algo indesejável. Com céu claro e ar fresco, os microrganismos do mar poderiam adormecer cedo em vez de vaguear na superfície da água. A praia molhada está esperando pela maré alta que acompanha o anoitecer. Um dos colegas do passeio comenta se lembrar que foi ali que ele esperou e viu as “lágrimas azuis” da última vez. Enquanto andava na praia, cada pegada sua na areia ficava azul, e até um braço exposto no ar era revestido do azul cintilante. Ouvimos com muita inveja, mas eu estava consciente de que as “lágrimas azuis” provavelmente faltariam ao nosso encontro daquela noite.
Supreendentemente, na ilha Pingtan pode-se baixar um aplicativo de celular que informa o estado atual das “lágrimas azuis”. Nos grupos do WeChat, sempre há alguém a informar as regiões em que surgiram “lágrimas azuis”. Durante o jantar, recebi uma mensagem no celular anunciando sinais delas num lugar não muito distante. Dirigimos até lá com muita pressa. Na região havia um pequeno porto, ao lado da autoestrada. Algumas balsas e barcos de pesca estavam imóveis, ancorados na escuridão. Perto da cerca de pedra do porto surgiram algumas pessoas que tinham ficado sabendo da notícia. Os seguidores das “lágrimas azuis” começam a se reunir nas ruas pouco iluminadas. Uma pessoa trouxe uma bacia de água e a lançou no canal do porto. A água azul saltou formando um círculo e arrancou exclamações das pessoas ao redor. Uma outra pessoa ficou de pé nos degraus do porto do canal e balançou uma vara bambu nas mãos para agitar a água e produzir ondulações ligeiramente azuis, enquanto outras pessoas esperavam à margem com a respiração suspensa. No entanto, o fenômeno terminou por ali mesmo. O leve azul obtido pela vara de bambu foi se desvanecendo. Um transeunte que parecia ser segurança veio e nos disse, com ares de entendido, que a direção do vento mudou, e os reclusos elfos azuis já não estão reunidos nas margens, eles voltaram para o fundo do mar. Se estivéssemos determinados a vê-los, teríamos que sair ao mar em uma grande embarcação.
Claro que só podíamos encarar a sugestão com humor. Não pensávamos em pernoitar na ilha, e retornamos perto da meia-noite. Quando atravessamos mais uma vez a ponte marítima de 16 quilômetros, não conseguimos enxergar a água do mar naquela escuridão. Será que algumas “lágrimas azuis” estavam embaixo da ponte flutuando com as ondas? Esta pergunta me ocorreu, mas a resposta não parece importante. Aqueles microrganismos que fiquem livres para ir aonde quiserem, está tudo bem. Não há ninguém na ponte silenciosa. As luzes da estrada se ligam em um feixe que se vai afastando. Estou satisfeito, sem qualquer quê de decepção. A ilha Pingtan ficou para trás, mas agora, assim como antes, a ilha está no meio de correntes agitadas, com suas praias planas, brisas úmidas salgadas e recifes corrugados. As ondas fazem barulho ao baterem nas rochas. Na noite, profunda e silenciosa, ainda se pode ouvir os longos suspiros da maré. Eu posso voltar de novo sempre que quiser, independentemente se puder ou não me deparar com as “lágrimas azuis”. 

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