Rosemar Eurico Coenga
Possui Graduação em Letras, com habilitação Português Francês, pela Universidade Federal de Mato Grosso; Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso e Doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília. Em 2019, recebeu da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) o selo Altamente Recomendável e Prêmio Melhor Obra Teórica com o livro Literatura de recepção infantil e juvenil: modos de emancipar, Habilis Press, 2018.
SENDAS PELA LITERATURA INDÍGENA
Alguns trabalhos sobre literatura de autoria indígena nasceram de um processo colaborativo de produção realizado ao lado de Anna Maria. Foram momentos de encontro da mais pura amizade e solidariedade, “momentos de graça infrequentíssimos, peixe vivo se debatendo nas mãos: puro susto e terror”, como diz Adélia Prado, no poema Antes do nome.
Ao escrever este texto aqui reunidos na Revista Pixé ocorreu-me a figura da palavra senda: rumo, vereda, direção, rota, atalho. As vozes desses encontros são entrelaçados de fios significativos, fios de sentidos que se entrelaçam e se soldam na tessitura da vida. Ao longo dos anos, partilhamos leituras, formamos uma rede de histórias e experiências interligadas num jogo de memórias.
Caminhar pelas trilhas literárias indígenas implica enxergar as vozes da floresta, capazes de nos despertar para uma infinidade de histórias inspiradoras narradas pelos fios da ancestralidade indígena. Ao divulgar a produção indígena literária contemporânea endereçada a crianças e jovens, objetivamos atender a uma demanda escolar, ou seja, são obras escritas para auxiliar o professor na tarefa de debruçar sobre essa multiplicidade de concepções de mundo, crenças e valores.
Diante do preconceito, do aviltamento, das espoliações que continuam sofrendo os indígenas – refletir sobre as possibilidades de literatura é um gesto mais que urgente e necessário. Do legado desse encontro e por meio da literatura de autores de diferentes etnias aprendi a reconhecer a força da tradição oral, suas histórias sagradas, seus mitos, seus ritos. Da boca de Anna ouço suas múltiplas explicações dos ritos de iniciação, de celebração e de despedida sempre cheio de sensibilidade, magia e mistério.
Na construção dessa grande trilha, aprendi uma centena de coisas, e muitas são indizíveis, pois passam apenas pelo sentir. Não tenho dúvida de que a escola poderá, e, muito, enriquecer o olhar dos alunos acerca das marcas étnicas e, consequentemente, culturais, linguísticas e éticas. Fica evidente que nosso desejo é que o diálogo aconteça nas escolas; que nossa proposta de conversar sobre os livros de autoria indígena possam convidar professor e aluno a conhecer sobre a filosofia dos povos indígenas.